"Entre a serpente e a estrela"
Não nego, eu assumo
escrevo carícias
pra te aliciar, te atrair
cruel, guardas pra si o que sentes
sinto muito, mas eu sei!
O sorriso que me envias
recebo emoldurado em ternura
a palavra interdita teus olhos
a pronuncia em minúcias
e ao trair-te a boca
o meu nome
balbucias...
Maria Lucia (Centelha)
Pelo perfume, apostei - é flor! ... Mas, não era. Tão bom de aspirar pensei, primavera!
Pressenti ali, tanta beleza, como a grandeza do mar a comportar a singeleza do rio que veio nele se integrar. Infinito mistério.
Nada concluído, ainda arrisco: é o aroma de um jacarandá florido!
Nessa adivinhação a esmo descubro feliz : é o amor em ação, único capaz de fazer desabrochar uma rosa, que no fim, é tudo a mesma coisa mesmo!
Maria Lucia ( Centelha)
(Arquivo pessoal)
Daquele fogaréu que alastrou calores
em seu corpo e em seus dias
ficou um poema inacabado
o vulcão que incensou sua libido
e sequestrou sua sanidade, longe no tempo
brasa sem combustível apaga a história
agora , um sopro libertador
lhe afaga a alma
é o reencontro consigo mesma.
segue em frente.
passou!
Maria Lucia ( Centelha)
Um rio
atravessou minha espinha dorsal
sua correnteza
me esmagou a pélvis
me esgotou e me sustentou
na sede.
agora, esse prazer líquido que eu albergo
se estende e desliza por detrás dos montes
irrigando minhas fendas e seus abismos
a perder de vista
o rio e eu .
Maria Lucia (Centelha)
Um
aguaceiro do alto
deixou um rastro na rua
com capricho o céu atua
nessa poça
pequenina
e por um triz - quem diria !
deixei de
pisar na Lua!
Maria
Lucia ( Centelha)
O beijo do sol me amanhece
com seu ouro
impregna de calor
jánelas e portas abertas
a alma que tenho
e a esse dia que promete
um balé de beija-flores
conjuração de asas
para o que mal sei ainda...
o cheiro bom de um café à mesa
me perfuma a boca, rejuvenesço
de repente, um sopro
choque anímico
súbita transfusão
do que paira em mim
escrevo um nome
na palma da mão - que louca!
apaixonada por um alguém
que, ainda, não conheço....
Maria Lucia (Centelha)
Das coisas inatingíveis,
qual fruto maduro
no topo inacessível
ao meu toque
atraiu o meu olhar
ambicionei o néctar que de lá fluía.
instiguei as asas. E voei!
das minhas infinitas vontades
conheci a alma imprecisa do desejo
jorrei paixão ao vento
das impossibilidades,
plainei em órbita no inconcebível
me deixei ficar...
permaneço, ainda, a esperar
e a desejar um pouco
do tudo que avistei
e ainda que houvesse
um fio de esperança
a (des)limitar meu alcance
somente a imaginação
saboreia esse fruto
de outro pomar.
Maria Lucia ( Centelha)
não busco a beleza
aos meus disfarces me assemelho...
olhar de fera me empodera mas prefiro o de menina
que há muito me fascina entre todos
em tantas eras...
engendradas personagens disfarçadas, descartadas
verniz enganoso da aparência
quanta saudade de mim!...
me viro do avesso
afasto o tropeço e indago ao espelho:
- quem sou eu ?
Maria Lucia ( Centelha)
Dia após dia o seu olhar
ao longe se perdia
onde era posto
se céu
ou mar
uma flor
o rosto
de um amor
ninguém sabia
o que tanto a atraia
onde seu olhar morava
não estava exposto
depois saia por aí
a versejar
lavrar palavras
como bem queria
a sua poesia.
Maria Lucia ( Centelha)
Ela inventa e
(re) inventa histórias tantas
quantas lhe arranhem
a imaginação
e as coloca por perto
mais que ouro
mais que rezas...
cria casos e causos somente
pra causar!
mas não é o bastante
romantizar
suas inverdades e fingimentos
o seu verso ela perfuma
do seu hálito cravo
canela
incensos ...
um jeito de se ver por dentro
em sua desmedida
vivência
seu excesso, seu
fôlego,
um grito reprimido,
quem sabe
quem poderá saber?
Maria Lucia (Centelha)
Eu queria dessa noite
além dos passos da dança um passo a
mais.
no teu corpo ver cessados os meus anseios
nos movimentos ousados dos teus meneios sensuais.
busco-te
a noite toda e,
tu
deslizas com outra indiferente ao meu olhar.
Como
é suave o teu dançar em gingados de prazer e paixão,
enquanto,
arrasto-me atrás de ti
pela
força de irresistível atração..
Dança
comigo!... - um grito em pensamento cheio
de desejo...
ter
nossos corpos jungidos, sussurros aos meus ouvidos
aos embalos
do "Chorinho" de Azevedo ou um bolero com Miguel
na
cadência de tua dança perfeita ai..ai...queria ser a eleita
pra
transpirar amor e mel...
fim
de noite, última canção
“Solamente
Una Vez!”.
de repente, uma emoção, minha face afogueia,
o sangue gela na veia e,o que eu julgava perdido
vem num convite sussurrado ao meu ouvido:
-
Dança comigo?
