quarta-feira, 29 de setembro de 2021

NÓS DOIS



no instante em que 
tocaste a minha mão 
na despedida e a reteve na tua,
não evitei o prazer pela posse
esmerei-me na intensidade do olhar
e  cravei-o no teu.
 
na duração eterna de um segundo
nossos corpos apenas se roçaram
mas foi o suficiente para provocar 
tuas carnes e fazer explodir 
a avidez do desejo voraz de tua alma
e a minha, à descoberto 
se expandiu com a tua no infinito 
sem tempo ou espaço.
 
Maria Lucia ( Centelha)
 

domingo, 26 de setembro de 2021

PERCEPÇÃO



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Quem vê o seu riso fácil

escândalo a lhe emoldurar a face 

não sabe da pérola parida

incrustada na pele de dentro.

Haja acuidade pra essa dor invisível 

que  pacífica os bichos da alma

com doce piedade.


Maria Lucia (Centelha) 

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terça-feira, 21 de setembro de 2021

O MEU LUGAR

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....  em sua boca de poucas palavras 
pairam o convite e a senha
o passaporte
o voo
em seu olhar de lúcida chama
brotam frases chispadas
pendentes
adivinhadas...

assim, a sua retina é um lugar 
todo pra mim.


Maria Lucia ( Centelha)

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sábado, 18 de setembro de 2021

AROMA DOCE

Hoje estou 

nessa lembrança recorrente

que te percorre o corpo

a estremecer no vôo de me pensar

a somatória, síntese do teu medo

e recuas...

 

sou o segredo vivo de sabor, 

tato e cheiro guardado em ti 

com mil trancas de silêncios

que te descompensas...

 

se tentas me evitar, te desacertas

desde que me fiz teu fôlego

e o aroma doce desse bicho 

que sou eu, grudado na tua pele.

 

Maria Lucia ( Centelha )

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

CLAREZA

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Meu descaminho

é um percurso longo

cantarolado na ponta da lança

o que me exige esperteza

coragem... fortaleza

por que o horizonte é do tamanho 

da minha clarividência.


Maria Lucia ( Centelha)

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domingo, 12 de setembro de 2021

DA PRECE AO GRITO



Por que ao palavrório 

que se recita vejo a poesia dista

tantas tralhas, tanto lasso

por que entre a alma que lateja

há a palavra que esquarteja

por essa e por outras é que 

entre a azáfama de tanta escrita

e às amarras que me induzem ao nó do laço

prefiro as mãos abertas para o infinito

para onde envio preces

e de vez em quando

um grito.


Maria Lucia (Centelha) 



quarta-feira, 8 de setembro de 2021

A ESPERA DE UM POETA


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a noite não dorme - orvalha  
derrama de seu sereno
para umedecer as manhãs
e para as pétalas caídas
desdobra suave mortalha
a noite baila e cintila 
como uma fêmea para o poeta 
que não dispensa uma rosa 
e gotas na pupila.

Maria Lucia (Centelha) 

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domingo, 5 de setembro de 2021

TELEPATIA

 


Deseja-me

 e me toca sem afagos

à sombra do seu silêncio

por se saber intocável

enquadra-me em secreto 

na moldura de seus olhos acesos


eu sei, pra burlar o fogaréu 

que lhe consome tem na palma 

a rigidez que lateja os músculos 

e nervos da alma...


imploro que saiba

são coisas assim, e mais nada

que me põem tanto e absurdamente

em excitação....


Maria Lucia (Centelha) 

 

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

A GOTA D'ÁGUA


Não sei de onde vem

deslocando brisas em espiral

inesperada gota d'água 

na entremanhã do meu quintal

em suave bailado matutino

ritual do seu destino pousa de leve 

numa folha de inhame

a espera de um raio de sol

que a derrame!


Maria Lucia ( Centelha ) 


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quarta-feira, 1 de setembro de 2021

QUEM PODERÁ SABER ?


Ela inventa histórias tantas quantas 

lhe arranhem a imaginação

não sendo o bastante romantizar

suas inverdades e fingimentos

tece versos que pendem de seus dedos

e os perfuma com devoção e zelo


cria casos e causos pra causar

efeito, talvez, de sua desmedida vivência

impalpável excesso, 

ressonância contraditória 

incorpórea e vadia a dançar 

entre as palavras


sem sobressaltos chega e já vai

mas goteja um grito inaudível


dessa de fora ou a de dentro? 

quem sabe, quem poderá saber?


Maria Lucia (Centelha)