segunda-feira, 30 de maio de 2022

ONDE ENCONTRAR A POESIA?

 


Eu a procuro
polinizada dos instantes
prenhe de choques sutis
na palavra altissonante
airada nos cumes envernizados 
das academias
mas, vejo-a dona de si se elevando
e
       d
       e
       s
       c
       e
       n
       d
       o livre 
dos grilhões, na mão 
calosa de carpir quintais 
da alma
perfumada de inocência
ou cambaleante 
no hálito da embriagues
na fala mansa e jovial
do ancião 
no ímpeto do jovem ao sonhar
"guardada nas palavras"

experimento do seu sabor 
aroma e a textura
quando emerge das dobras 
do avental da cozinheira 
que ao cantar leva as palavras
ao fogo brando
para servi-la depois, à mesa.

Maria Lucia ( Centelha)

"Guardada nas palavras" , Manoel de Barros.

quinta-feira, 26 de maio de 2022

RENDIÇÃO

 


porque é no desalinho
exato ponto onde ela se encontra
aquele que lhe fende a aorta
de modo tão perfeito
tão ardente
tão revelador...
não há rezas que chegue
ladainhas
fremente rogo
entre ranger de dentes
não tem mais jeito
é a favor do amor bebido
do início ao fim de um só fôlego

que mais importa ?

Maria Lucia (Centelha)



segunda-feira, 23 de maio de 2022

SEMENTES





flutuam despretensiosamente

do meu próprio excesso

a desabrochar arrepios 

à flor da pele, 

sementes

com ímpetos 

de que um doce vento as leve

pra algum lugar

alguma parte

onde a poesia

seja ar

vida

pulsação.


Maria Lucia ( Centelha)

quarta-feira, 18 de maio de 2022

POEMA MAGOADO



de tudo 
o que julga saber
nas suas equações 
de direção e chegada
não atina com nada
ou do porquê
desse seu grito engasgado
são coisas 
que traz a morte
igual um sentimento 
embargado
mas, ainda, 
dá vezo à teimosia 
de buscar em perfeitas frestas 
uma palavra que floresça
leve, breve  entre os versos
do seu poema magoado...


Maria Lucia (Centelha) 









terça-feira, 10 de maio de 2022

POEMA ERRANTE




lá vai um poema errante
se embrenhar pela transparência
não lhe adorna o mistério
nem a prolixa flor da linguagem
menos o malabarismo 
de sentido dúbio...

se um ou outro vocábulo
escapa do contexto e expõe sangrias 
as palavras arfam
sofrem anseios por um lirismo
que bem longe dista
por essa razão, se desdobra
busca por uma retina
capaz de lhe emprestar
alguma poesia...

enquanto poema sem rumo
subsiste inconcluso e disperso 
por que nada mais lhe sobra
que ser ele mesmo: 
- absorto e inverso.


 
Maria Lucia (Centelha)




 


sexta-feira, 6 de maio de 2022

ABSTRAÇÃO




não fossem os beijos
adivinhados 
(pré) sentidos
para muito além da roupagem
inundando a pele
o estio, talvez, 
prevalecesse...

se motivo nenhum houvesse
para esse arrepio 
que orvalha
aroma de cio 
no verso explicitado
com a cara e a coragem
um seria inventado.
 
Maria Lucia (Centelha)




 

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Poetas & Poesia

Comentários poéticos que os  amáveis poetas me deixaram ao poema "UM VERSO SÓ"


Poema de um verso só
coitado, sem companhia
em busca de um afago
de manhã, à tarde...
em todo o dia.

______Mário Margaride






A pérola do Amor é o colar do seu coração

__________Rosélia Bezerra .



Quando o amor é emoção
Não é infértil, nem pó
É sim a força do coração
Em Poema de um verso só

___________ Ryc@rdo



A Maria Lúcia é fascinante
Escreve sempre com o coração
Eu leio-a com uma certa emoção
E chamo-lhe, Bela, e deslumbrante.

___________Cidália Ferreira 






Um único poema 
que buzina, buzina
sai da linha e o outro
não adivinha...

_________ Jose Carlos Sant Anna







Gratidão!

.

segunda-feira, 2 de maio de 2022

MUDANÇA



Estou de mudança.
Tijolos que me isolavam, cairão
a vidraça que me encarcerava,
ao chão
a luz há de penetrar pelos vãos
dos escombros.
Tudo eu guardava ali, meu pensar
meus devaneios
meus amados
e meus anseios
vistos a olho nu,
lágrimas e risos
emparelhados no mesmo baú.
Escorre de cada detalhe desse teto
sentimentos ambíguos
onde eu os colocava
com o olhar insone
em assomos de choro em secreto...
Na mudança, levo comigo
alguns versos truncados
incompleta poesia
o rolo compressor de herança.
Demolida a antiga moradia
com ela fragmentos meus
e dos dias, os segredos.
Liberto-me, enfim, desse degredo
tenho do que restou o que eu sou.
Nesse ínterim, vou encaixotando
pra mudança
o resumo intacto
de tudo o que mais versejei
dentro de mim...

Maria Lucia ( Centelha )