TUDO PASSA

 

Tudo passa

nesse mundo!...

Qual pássaro 

no voejar fugaz do segundo

fugidio haicai 

na neblina do céu 

ao fundo.

Maria Lucia ( Centelha)

TEMPO VAZADO

 

o aguaceiro intermitente 
resvala sobre o telhado
e paredes fraturadas por idade 
longos fios cintilantes

e para além da vidraça 

embaçada de memórias

um olhar tresnoitado 

desenha em gotas imagens e vultos 
que a chuva copiosa vai dissipando
com a mesma precisão
que o tempo talhou
a sua ident_idade.

Maria Lucia (Centelha)  

SUA VINDA

 

Venha, se puder

no murmurinho da tarde

quando ela se deita

no leito azul-marinho 

do horizonte

se desejar, 

venha em noite alta 

em segredo

como gosta

eu tenho o gosto

se estiver 

sedento neste instante

venha

sob essa chuva

que se derrama lenta

nessa madrugada 

secretíssima 

para amantes.

Maria Lucia (Centelha)

VERSOS PIRILAMPOS

afrouxadas as amarras
eu quero o espaço que mitigue
essa ânsia de voar...
 
como por encanto
palavras emergem
e me caem em pencas...

uma aragem repentina
de algum recanto
evolam versos pirilampos
para a luminosidade
 de uma tela que os abrigue

que alegria!...
os  pássaros cantam
é  primavera?

Maria Lucia ( Centelha ) 

REVIVER

um adeus repentino

no bordado das palavras

são alinhavos soltos 

do que restou da loucura 

daquele "caso" torto...

por trás da fresta 

como consolo

estanca o choro...

 

um bisturi que fere 

é o mesmo 

que esparge a cura 

e liberta a vida 

ao que parecia 

morto.

Maria Lucia (Centelha)

 

SOBRE AMAR

o destino se um houver

não me trouxe aquele
que faria nascer o amor para

que eu pudesse transcender

gotejada de poesia...

truncada a intenção 

da semente concebida

na latência do imaginário 

impede a delícia

de uma fruição, mas 

sem qualquer pudor

de amar não "abro mão"

Maria Lucia (Centelha) 

EXPLICAR O AMOR

... é como tentar 

explicar o  porquê 

da correnteza de um rio  

entre as duas margens

abraço sem prisão e o porquê 

a tarde tem mais beleza

na penumbra do final do dia  

entre o pôr do sol

e a argêntea lua...

explicar 

esse querer estar

quando não devia

pra fecundar tão bom 

envolvimento de prazer 

e encantamento em hora

fugidia, ainda, que breve 

pra depois, ir-se embora

e desaparecer 

no fim da rua...

Maria Lucia (Centelha )