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sábado, 31 de julho de 2021

POESIA NA NOITE


era uma noite serena

que se arvorava em luares 

pra se estesiar

e ao cintilar distraída 

em uma gota de orvalho

esta triste lhe dizia:

- vem de ti , oh, noite , esse brilho

ou me roubaste a poesia?


Maria Lucia ( Centelha )



quinta-feira, 29 de julho de 2021

ASA TRUNCADA



nem tudo é beiral

na curvatura miúda dos olhos

a amplidão os preenchem 

se inundam de azul

transbordam de verde

o longe o atrai

abandonar-se ao vento

para voos sem volta

do horizonte tomar posse

Ah!... mas , impulso truncado não revoa

nesse definhar precoce

domesticado

esqueceu como é que voa

para o mundo

um bater de asas, a menos

 

Maria Lucia (Centelha)




 

terça-feira, 27 de julho de 2021

ROMANCE

 



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abre parêntese 


põe a noite azulada de lua

para polvilhar de prata 

uma varanda.

em nossas bocas (in)quietas

o vinho

descendo lento...

ao menor sinal de mudança de ares

  um epicentro pra desatar os nós 

entre nós dois pra estremecer

um laço de fogo 

eu adivinho

em nossa alma noturna

desatada. 


- fecha parêntese - 


Maria Lucia (Centelha) 

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domingo, 25 de julho de 2021

ANOMALIA



Nas dobras que o dia dá

na leveza do varal

alvo lençol tremula ao vento

- Que anomalia!... 

branca asa esvoaça ao sol

não conhece outra cercania!


Maria Lucia ( Centelha)


 

sexta-feira, 23 de julho de 2021

MEU TEMPO

 

 
Vivo ensurdecida em silêncios 
logo eu, ruidosa em improvisar 
pequenas alegrias e prazeres 
em cada passo dado...

ensimesmada 
nessa via-crúcis de hoje 
acolho os arroubos de um vento 
que aos gemidos me seca a face alagada...

os ponteiros de um velho relógio
insurgem sem cessar, tramas insólitas 
em direção ao meu tempo
para a descontinuidade 
do meu estar. 

sem prestar contas 
ao fio cortante das horas  
que me ronda a pele madura
continuo a expor poemas 
como se fosse a alma.

Maria Lucia (Centelha )



terça-feira, 20 de julho de 2021

MEU VERSO



Vai sendo o meu verso

uma parte de mim que se desloca 

sem rumo e sem tema 

em busca do ancoradouro 

de uma estrofe que o sustenha...


vertigem , não sabe de si 

senão que é instinto

impulso despudorado

de naufragar na intimidade 

d'algum poeta.


pura vontade de se tornar 

um poema!!


Maria Lucia (Centelha)  


domingo, 18 de julho de 2021

NO PARAÍSO


Horas à fio esse louco 

suga-me os contornos, 

o sorriso, o lampejo do olhar 

e até o sagrado ócio...


já tomou dos meus licores

degustou os meus sabores

mas não se contenta com pouco 


Que sede incontida! ...


Embevecido ante o meu adejar

pelo paraíso do gozo

aqui, ainda, permanece 

como se além de mim

nada mais houvesse 


Maria Lucia (Centelha) 



quinta-feira, 15 de julho de 2021

SÚBITO GOSTAR

Arquivo pessoal

Que eu ame, desame, e ame de novo

num constante arriscar

fluxo contínuo e livre 

como versos sem estrofe

sem tempo pra hesitação

a entrega está na mão espalmada

e o desejo que a língua represa

úmida para um súbito gostar 

um gostar a toa, que seja

é melhor que nada ... 


Maria Lucia (Centelha) 




terça-feira, 13 de julho de 2021

COMPRAZER



era-lhe o silêncio as asas 

para as lonjuras ao seu olhar

flertava com abismos fictícios

tamanha a vontade de migrar 

de sorte ninguém a acompanhava

porque ousava metamorfosear-se

em cada entardecer 

e entardecente se fazia 

pra se comprazer.

 

Maria Lucia (Centelha)



 

domingo, 11 de julho de 2021

SOLITUDE



passo pelos dias

entre o verso e a solitude 

poemando-me conforme o sol 

por entre os dedos

ou o manancial ameaçador

cravado sob as pálpebras

que só contenho na unha.


não me rendo, ainda...


rabisco  na folha do tempo

uma outra florescência

para o meu estio

não importa o inverno 

no entremeio

converto as lamúrias

em sopros resignados

e os coloco por perto 

mais que lágrimas.


Maria Lucia (Centelha) 




quarta-feira, 7 de julho de 2021

BAGAGEM


Traz por debaixo 

da pele crestada pelo sol 

das muitas transgressões

invisíveis  batalhas

submersa incompletude

e uma lua nova cheia

de sonhos que mínguam

dentro de uma noite

que nunca envelhece...

 

 que importa sua bagagem 

e nenhum indício de certeza

se o que eu sinto

faz-me crer

 na doçura dos beijos

que esse poeta hoje

me oferece?

                            

       Maria Lucia (Centelha)



domingo, 4 de julho de 2021

VOEJOS



Há um brilho pulcro naqueles olhos

ao contemplá-la

na imobilidade da fotografia  

o corpo estremece

reage involuntariamente

julgas haver naquela imagem um convite

e o inevitável acontece

ele a despe devagar

tece-lhe asas de passarinha

e a prepara para o próprio gozo

que é vê-la voejar ante o seu olhar!


Maria Lucia ( Centelha )


sábado, 3 de julho de 2021

RAIO DE SOL



Na maneira 

inesperadamente insana

de me reproduzir no silêncio 

mais pensada que articulada

a palavra fica vã...


Sozinha, eu ? Não!...

tenho a existência 

de vivências cheia

trago uma saudade antiga 

sobre os os ombros

e essa janela escancarada 

para o mundo...


é todo meu o clarão da aurora 

e também os ventos 

que embaraçam os meus cabelos

ruídos de amores estilhaçados

e esse pequeno raio de sol

a me cortejar nessa hora...


Maria Lucia ( Centelha)